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| Foto: www.depoisdosquinze.com | 
Hoje eu queria  falar um pouco de você, que tanto me doeu. Sabe, eu achava que era amor.  Na verdade, eu queria que fosse. Fazia uma força tremenda, lutava  contra tudo que existia em mim para conseguir ganhar tudo que havia  dentro de você. Mais do que te querer, eu gostava da ideia de te querer.  Não sei se alguma coisa foi de verdade ou se tudo existiu só dentro de  mim.
Acreditei  em cada palavra que você disse, em cada olhar que recebi lá no fundo de  mim, no fundo dos meus olhos, no fundo do meu sentimento. Então, eu  encostava a cabeça em alguma almofada do sofá e, de olhos abertos,  ficava imaginando eu, você e nossa vida. E quando ia deitar você era meu  último pensamento. E frequentemente eu adormecia com os olhos marejados  ou chorando, por querer você por perto e aquela distância insistir em  nos separar.
Demorei  para perceber que a maior distância não era o fato de eu morar em uma  cidade e você em outra, mas a maior distância é que eu tinha meu coração  no meio dos dedos e queria te dar. E você fechou as mãos, fechou a  cara, fechou a porta. E ninguém me entendia. E ninguém compreendia  minhas maluquices. E ninguém se dava conta que meu comportamento era de  uma mulher apaixonada, que queria estar perto, junto, que queria uma  resposta.
Eu  pensava como pode alguém que um dia disse que te queria agir dessa  maneira? Fugir? Ser ríspido? Ser violento? Ser ignorante? Magoar e ferir  propositalmente? Isso não é humano, não é real, eu repetia para mim. E  todo mundo dizia para eu esquecer, para sair dessa, para tirar da  cabeça. E você me mandou embora e eu quis ficar, eu queria ficar, meu  Deus, como eu queria ficar! Ninguém entendia, nem eu me entendia, mas eu  queria ir até o fim, queria ir até onde eu tinha forças, até onde  existisse uma fagulha de sentimento. Eu pensava: enquanto existir  sentimento vai existir coragem. E eu tinha coragem de sobra. Eu queria  ficar. Eu queria você. Eu te queria desesperadamente. Eu precisava  precisar de você.
Eu  morria de esperança, de sonho e de dor. Vivia sonhando com o futuro,  esquecendo de mim, da minha vida, de quem eu era, do presente. Insistia  num futuro bom com você. Eu queria que você fosse a pessoa certa, eu  tinha aquela certeza e pensava: se eu sofro tudo isso é por uma boa  causa, é porque Deus ou Buda ou Alá meu bom Alá vai me recompensar. É  porque algo bom está esperando por mim, cheio de sorriso e vida e  alegria e tudo que eu quis e queria e vou querer.
Vivia  naquele círculo maluco de sofrimento e pequenas alegrias que passavam  mais rápido que as estrelas. Existe a realidade e o que a gente queria  que fosse. E eu vivia no queria que fosse. Esqueci do mundo real, vivia  você, sentia você, queria você. Aquilo me consumia, eu me doía inteira,  pensava que era amor demais. 
Quando  você me repelia eu lembrava "mas aquelas palavras diziam muito". Aquele  olhar que você me olhava. Aquilo tudo era real, eu sentia. Me apegava a  isso. Era isso que me mantinha viva. Eu pensava é medo, é puro medo, é  insegurança, é imaturidade, ele não sabe ser amado. E eu vivia arrumando  desculpas para você e para a minha falta de sinceridade comigo mesma.
Então,  tudo clareou. Quem ama trata bem. Quem ama pode até brigar, mas volta  atrás e pede desculpa. Amar não é aquele sentimento doido que sufoca e  quase mata. Isso é paixão. Quem te ama pode até magoar, mas percebe que  fez o que não devia e volta e pede perdão e diz olha, eu não fui legal. E  me dei conta que desculpas são só desculpas e que se você tem medo e  não consegue ser amado e é covarde, problema seu, não meu. Porque eu tô  aqui para ser feliz. Tô aqui para ser amada. Tô aqui para viver bem. Tô  aqui para dormir encostada no peito de quem me ama. E acordar com um  beijo de bom dia de quem eu amo. 
Sabe,  hoje eu vejo que nunca foi amor. Amor é o que eu sinto hoje. E ainda  bem que sou correspondida. Não tem nada melhor do que um amor que é  correspondido e é real.

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