Na minha cabecinha inocente, duas pessoas que se amam deveriam formar um  casal apaixonado. Daqueles que a gente vê em filme. Com direito a  corridinha na beira do mar de mãos dadas e tudo mais. Com beijo  romântico no pôr-do-sol. Na minha imaginação adolescente, o amor nunca  perde o viço. Era só isso que eu pedia pra mim. Flores, frases, vinhos,  praias, corações, edredons. Mas quem mandou eu acreditar nos filmes, nos  livros, nos textos, nas palavras, nas promessas?Não entendo de morar  junto, não entendo de casamento, não entendo de uma vida a dois, muito  menos de amor. Mas o amor não deve ser só receber sem se dar. Se fosse,  estaria à venda. E não está. Porque o outro lado não precisa de dinheiro  pra amar. Só precisa amar de volta com a mesma intensidade. E o amor  precisa de intensidade. De intenção. O amor não é querer o fácil só  porque lhe convém.Talvez seja por isso que certos tipos de homens  apreciam prostitutas. Amor enlatado. Descartável. Pra viagem. Só na hora  que convier. Sexo sem tpm. Vapt-vupt. Au revoir. Enquanto o dinheiro  der. Sem dor de cabeça. Até que a próxima noite os separe. Na alegria,  sem tristeza. Na saúde, com doença.Se o amor tem um preço, é este: amar  vinte quatro horas por dia, sete dias por semana. Amar cem por cento.  Amar por inteiro. Infinito. Sem data de validade ou prazo pra expirar.  Dar sem garantias de receber nada em troca. Apostar todas as suas  fichas. Ser todo. Se o amor tem um preço, um jeito, uma forma, uma  fórmula. Se o amor tem jeito. Eu não sei. Eu não sou fácil, não me  vendo, não aceito migalhas, não gosto de metades. Sou um império do bem e  do mal. Sou erótica, sou neurótica. Sou boa, sou má. Sou biscoito de  polvilho. Açúcar, sal, mousse de maracujá. Só não sou um brinquedinho.  Que alguém joga no canto do quarto quando não quer mais brincar. Sou um  pacote. Uma mala. Sou difícil de carregar.

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